quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O Teatro dos Balcões

O melhor lugar pra se sentar em um bar é o balcão. Naqueles bancos altos. É sim um lugar isolado. Em alguns momentos chega a ser solitário. Mas de lá é possível ver um grande teatro que ocorre por trás do balcão. Um verdadeiro camarote. É o cotidiano íntimo de um bar "encenado" pelos seus funcionários:

- Gorete, onde você estava?
- Eu? Estava no banheiro - responde enquanto ajeita o avental.
- Sei...
- ihhh...eu hein...não sabia que mudaram as regras daqui. Até ontem podia ir ao banheiro.
- Banheiro por 40 minutos é estranho né...
- Oxente! Amanhã vou vir de fralda pra ficar aqui o tempo todo. E também não sabia que você tinha virado gerente, Lúcia...oxi!
- Vai, vai... Não resmunga e Pega logo a porção de 6 pães de queijo pro moço ali...
Gorete vai com um curto sorriso na expressão e diz:
- Toma logo então. Ele pediu um expresso também. Se vira nos 30, filhota...
- Ai Ai! Esses dias eu to loca pra bater numa baiana!!!
- Haaaa nêga. Não vem que não tem. A baiana aqui é cabra macho!!!

As duas dão gargalhadas verdadeiras, felizes da vida. Como se fosse um espetáculo de teatro bem montados, conseguem dar uma atmosfera para o bar. No caso, a simpatia. Claro que os clientes sentem e percebem. Assim com o espectador de uma peça teatral.

Como é interessante notar as relações humanas de um bar. Suas expressões e reações. Pequenos conflitos e opiniões vindas de culturas diferentes. Um teatro espontâneo!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Deixar "Ser" ou "Sangrar"? Eis a questão...

Meu primo Otávio, com menos de 10 anos de idade, tem uma habilidade tremenda com o violão nas mãos. Já sabe o quer ser quando crescer: "Músico", responde sem hesitar. Para contribuir com a história do garoto, no último natal lhe comprei um CD de presente. Queria um disco que tivesse história. Que fosse rico musicalmente e que representasse o sentimento de uma geração. Nada melhor que os anos 60. A escolha foi um dos maiores discos da história do rock n' roll: "Let it Bleed". Sim. "Bleed", não "Be".

A diferença não é apenas o significado ou as letras. Para os desavisados, "Let it Be" é a famosa e melosa canção dos Beatles. "Let it Bleed" é a clássica faixa título do milenar álbum dos Stones de 1969.

Guerra do Vietnã. Época dura, violenta. Naquele tempo uma moça de família tinha permissão e total apoio dos pais para se casar com um Beatle. Mas jamais ousar a disparar olhares para os arruaceiros dos Stones. Existe uma diferença clássica entre ser um "Beatle" ou um "Stone". Mas não é meu propósito instigar esta escolha no Otávio. Ele estará bem servido independente da escolha. Quero lhe dar acesso à música além das FMs e programas televisivos. O disco é de uma geração que mudou nosso mundo. Tem conteúdo histórico e cultural. Não quero deixá-lo a mercê da banalidade que recebemos sem pedir. Precisamos, de alguma maneira, blindar nossas crianças de tantos Telós, Cherêchêchês, Funks Proibidões, BBBs e outros que entram em nossas casas sem pedir licença. Interferem diretamente na formação das nossas crianças. Roubam-lhe o direito de imaginar, colorir e criar seu universo pessoal.

O mais intrigante de toda essa história é o que me ocorreu na última quinta. Estava de partida da casa de uma amigo quando começou uma tremenda chuva. Fui esperar na sua sala. Isolados num canto, vários discos de vinil. Entre Caetano Veloso, Eric Clapton, Jeff Beck e outras velharias, lá estava ele: "Let it Bleed". "Vocé gosta? Pode ficar...", disse Rui. Ganhei de presente. Em vinil! O disco ia para o Sebo do bairro. Mais que um presente material, fica uma sutil e gostosa sensação: "plante rock n' roll, colha rock n' roll".

Otávio terá um grande material para se inspirar. O tom apocalíptico de "Gimmme Shelter", o forte blues de "Mid Night Rambler", as baladas irresistíveis "Love in Vain" e "You Can Always Get What You Want", além da faixa título "Let it Bleed". Espero que as guitarras de Keith sejam apenas a ponta do iceberg na influência musical de sua vida e carreira. Precisamos de almas pensantes e atuantes. Que tenham sentimento e senso crítico para ver além dos outdoors. Um CD pode ser pouco para tal. Mas considero um grande ponto de partida.

Com certeza é mais fácil receber tudo que nos falam na TV, nas rádios e no facebook. Simplesmente "deixar ser" e tocar a vida. Sem filtro e de forma passiva. Por mais que seja difícil escapar dos bombardeios midiáticos atuais, vale tentar ir além. Ultrapassar a fronteira e conhecer o novo, ou velho, pela própria curiosidade e imaginação. Sim. Pode não ser fácil. Então é só "deixar sangrar" e seguir em frente. No fim, garanto que valerá a pena.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Mistura de Fatos Raros

Preciso compartilhar o momento. Estou tendo uma experiência única.
Estou comendo um fetuccini ao molho pomodoro (que eu mesmo fiz), tomando Budweiser, ao som de Mutantes, enquanto cai uma tremenda chuva de graniso. Há 30 min fazia sol de Bahia.
O sabor dos frescos tomates no molho do meu prato se misturaram com a imagem das pequenas e sutis pedras de gelo caindo do céu cinza e obscuro, batendo no chão de cimento próximo avistado da minha janela. Com a trilha sonora ao fundo: "você, precisa saber da piscina, da margarina, da carolina, da gasolina...baby, baaaby, eu sei que é assim...".

Uma mistura de fatos raros sempre merece ser registrada.
E quando fui clicar no botão "publicar post", mirei os olhos para o horizonte e eis que surge ele, o sol, com um tímido e belo raio. Ê São Paulo...

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Sobre Cinema, Carros e Sensualidade...


Quentin Tarantino é o cara. Esse post pode soar um tanto quanto machista. Mas ele conseguiu reunir, em um só filme, a melhor cena de perseguição automobilística e a melhor cena de dança sensual. Comecemos pela primeira.

"Dodge Cherger 71" ou "Dodge Challenger 69". Qualquer um que curte carros sabe do que estou falando. Eu sei que estes são 2 clássicos do mundo automobilístico. Mas porque perguntei por aí. Não entendo tanto de carro assim...Mas acho sensacional essas máquinas! O filme tem essas belezuras em 4 rodas e os melhores dublês da história na direção. São os caras "das antigas", que perderam um pouco de empregabilidade com o advento dos efeitos especiais. E sem usar tais efeitos, Death Proof tem a perseguição cinematográfica mais alucinante de todos os tempos! Tive a clara sensação de estar dentro do carro. Torci pela fuga e pela captura. Nas perseguições convencionais apenas um dos lados ganha torcida. Os carros são clássicos dos anos 70 e os dublês pilotam muito.Vale o clichê: é de perder o fôlego.

Agora, vamos à dança sensual. Estamos no séc. XXI. Apogeu das super-mulheres-siliconadas-das-barriguinhas-saradas. Talvez as mulheres que verem o filme irão soltar um "nossa! Que gordinha...", também um "olha a pochete dela" ou um " nem colocou um salto alto para executar seu número...". Então vai aqui uma lição: A Butterfly, ou Arlene (personagem interpretada porVannessa Ferlito), mostrou que plástica, silicone, roupa nova, chapinha ou qualquer tipo de produção, não tem força perante à essência da sensualidade e do charme que uma mulher pode alcançar. Essas duas qualidades são para poucas. E o dinheiro não pode comprar. Sim. Ferlito conseguiu atingir nota máxima nos dois quesitos. Despenteada, sem maquiagem e de havaianas nos pés. Com certeza os homens preferem tais requisitos às produções e cirurgias alheias. Que escreva o primeiro post o homem que discordar.

Apesar da violência e do sanguera desatada típica nos filmes de Tarantino, recomendo o filme para as mulheres. Personagens femininos raçudos também são uma característica do diretor!


Para os marmanjos interessados e super-mulheres-siliconadas-das-barriguinhas-saradas com ego ferido, segue link da dança.

Para ver a perseguição, saia da net e vá alugar o filme. Vale a pena!


terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Onde as Coisas Acontecem



Hoje, 3 de janeiro, é dia de aniversário. Completei 1 ano morando em SP.

A frase “onde as coisas acontecem” foi a que mais escutei como descrição da cidade. Paulistanos e forasteiros que adotaram São Paulo repetem tal frase de boca cheia. E após 1 ano de vivência em Sampa, vai aqui a minha explanação: Aqui tem uma energia diferente. Um impulso natural e favorável para a realização de “coisas”. Além de ser o mega pólo comercial/industrial/cultural/etc e tal, certamente o inconsciente coletivo de “onde as coisas acontecem” contribui para que elas realmente aconteçam. Acredito muita na energia que as massas produzem através de seus pensamentos. E que as cidades são movidas energeticamente pela energia e pelos pensamentos radiados através de sua população.

Após este ano, posso afirmar que Caetano tinha razão. Realmente alguma coisa aconteceu no meu coração. Gostei de São Paulo. Das suas 4 estações em um único dia. Da mistura de diversas tribos. Virei freqüentador do seu circuito cultural. Admiro o seu caos natural. Suas feiras, shows, espetáculos, cursos, bares, pessoas, ruas, esquinas, eventos, parques, praças, avenidas, livrarias e as demais “coisas que acontecem”, como dizem por aqui.

Meu coração é, e sempre será, Belo-horizontino. Mas eu tenho o coração grande. Muito grande... Tão grande que também cabe a maior cidade das Américas dentro. E com certeza em um lugar especial e cativo.