terça-feira, 11 de setembro de 2012

O Ruído Marginal

Sp. 17h30. Marginal Pinheiros. O ruído da avenida ecoa longe. É um zumbido sem fim. Na calçada em frente ao edifício uma mulher fuma com os braços cruzados. Ela bate pé no chão com impaciência. À sua frente, um homem de camisa polo listrada na horizontal, com uma das mãos no, bolso desabafa: "a gente está fazendo um trabalho burocrático aqui...". O barulho estridente do motor das motos é uma constante, acompanhado do "BIP BIP" de suas buzinas. Sai da frente! É o corredor bombando na alta. Na calçada uma multidão desenfreada segue a passos largos para a estação do trem. Pessoas olham em seus relógios, consultam SMSs e guardam coisas nas suas bolsas e mochilas. E sai da frente! O Trem vai passar. É um show de tensão. Sobrancelhas se encontram acima do nariz num constante franzir de testas. O som dos passos pesados da multidão alienada fica de fundo, complementando o zunido principal. É praticamente uma orquestra do caos. Enquanto isso, um velhinho de 1,62, vestindo camisa branca, com uma boina xadrez marrom na cabeça, caminha lentamente com a bengala na mão direita...com sua corcunda, arrasta a perna pela calçada desfigura, cheia de buracos e cimento mal acabado....parece estar em câmera lenta...........praticamente um ser do bem em ambiente hostil....ele observa lentamente o caos à sua volta...olha pra um lado...pro outro....e caminha...caminha.......De repente: "OLHA A POLÍCIA, TIO!!!!", grita um transeunte engraçadinho que vinha da sua direção contraria. Era o som de uma ambulância ao fundo, se aproximando aos poucos até causar conflitos no transito. Os carros abrem uma das pistas pra dar passagem. Buzinas mil. "Filha da Puta!", grita a motorista para o barbeiro do Celta que virou sem dar seta. No ponto de ônibus um cidadão de mochila nas costas observa tudo de camarote e cutuca seu nariz de leve. Outro com fones de ouvido está lendo uma revista em quadrinhos. Quando uma Kombi quebra a sua frente. Fumaça preta para o alto! Todos no ponto tapam o nariz. Uns com a camisa e outros com a mão. Uma mãe sai correndo arrastando seus dois filhos com gritos de desespero: VAI EXPLODIR! VAI EXPLODIR!".
Paira no ar o inconsciente coletivo: é a corrida pra sair do transito, chegar primeiro ao ponto, pegar lugar no metrô. Missões praticamente impossíveis. Mas todos querem seu lugar ao sol.
Enquanto isso, no horizonte enfumaçado, ele compõe com maestria a atmosfera turbulenta que reina na capital paulista ao fim de mais uma terça-feira. É o imponente Ruído Marginal.