quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Padre João Batista


Onde é a urna? Eu voto nele. Pe. João Batista pra Papa. Se tem alguém nesse mundo que faz a igreja católica ter sentido é ele. Aquele que tem lâmpadas nos olhos. Quando era criança, menino novo, fiz curso de catecismo. Depois também o de crisma. Vim de uma tradicional família mineira, extremamente católica. Tinha que ir à missa das 19hs aos domingos, por que nunca ia na das 7 da madrugada, tão pouco na das 9hs. Era criança peralta. Queria jogar bola e brincar de pegadô na Cadivô, ou na ZecaLândia, como inovou Batista no seu sermão do último domingo.

Tenho uma pequena forte lembrança destes tempos de criança. Era dia de Galo x Botagofo, as 19hs de um domingo. Tive que ir à missa! A implacável Dona Cecília puxou o relatório de ponto daquele dia e viu que eu não tinha marcado presença pela manhã. Daí a casa caiu...Tive que largar tudo e ir à missa. Mas não me aguentada na igreja. Só pensava no Galo, e nos primos brincando, e depois no Galo de novo. Quando cheguei à Cadivó vi que o Carijó tinha perdido o jogo de 2 pts do Brasileirão. E pensei com peso na consciência: "poxa vida. Perdi o sermão do João Batista e meu Galo perdeu...". O tempo passava e eu crescia. Aos 15, 16, já tinha bacharelado e especialização nos quesitos católicos: batizado, 1a comunhão e crisma. A última teve uma etapa interessante em um retiro no colégio Dom Bosco, nas redondezas de Barbacena. Eu e meu primo Eduardo "tocamos o terror" na “concentração”. Subimos no telhado do colégio, acordamos os colegas, batemos nas portas diversas e tudo mais. Mas sem fanfarras em excesso. Tudo dentro dos limites, pois era um RETIRO. No café da manhã ouvimos os padres comentando amigavelmente sobre possíveis "gatos pretos" andando pelos telhados na madrugada. E haja coração para as palestras mil! Foi uma pescaria só. Sono. Muito sono! Mas no final foi divertido. Naquela idade não tinha muita oportunidade de viajar no fim de semana com amigos.

Após este período me afastei da Igreja Católica de forma natural. Vieram as viagens da escolinha do Tony, depois a faculdade, carnavais, a famosa boemia, trabalho de gente grande, responsabilidades, e por aí vai. Sempre fui respeitoso às religiões diversas, apesar de achar que não deveria existir nenhuma delas. Do período “pós-crisma” até aqui, minha relação com o catolicismo se resumiu à presenças em casamentos, batizados, momentos especiais, familiares. Digo isso em relação às missas, pois mesmo não sendo praticante, amo uma igreja católica vazia! Silêncio. Pé direito imenso. Imagens bonitas. Paz. Frequentei por muito tempo a da rua Espírito Santo com Afonso Pena, no centro de BH. Sempre que possível ia lá. Nos intervalos do turbulento cotidiano da telefonia. Tiradentes, Cusco, Ouro Preto, praça da Sé. A igreja que mais gosto é a de Trancoso, no quadrado. Ali é sagrado pra mim! Independente do que é dito nas missas e sermões, ou do que foi feito na inquisição, encontro paz em uma igreja vazia. Conecto comigo, com meus anjos, com meu Deus, com os espíritos de bem. Renovo minha fé, minha cultura. Sinto a energia dos meus avós. Colo os meus pés de ventosa no chão. Respiro com a certeza de quem eu sou, de onde eu vim e pra onde vou. Pratico minha gratidão. Em uma cidade grande é sempre bom ter uma igreja vazia para entrar e ouvir sua própria respiração. Faz bem pra alma!

Mas no último domingo entrei em uma igreja cheia, e em grande estilo. Celebração de 60 anos de casamento dos meus avós. Seu Zeca e Dona Cecília. No quinto passo eu já estava chorando como uma criança. Entramos todos os primos, netos, depois os bisnetos, crias diretas, agregados, etc. Não necessariamente nessa ordem. Nada de cerimonial. Tudo "à moda Viana". Em seguida o casal sessentão. Coisa mais linda de se ver. Amor. Muito amor. Uma família às vezes Buscapé, outras Corleone, parecendo ter sangue italiano nas veias, mas sempre ancorados no amor plantado por Zeca&Cecília. Quando começou a cerimônia, me dei conta que a mesma seria liderada pelo Pe. João Batista, aquele que eu gostava no período “pré-crisma”. E no mar de alegria da família Viana, na simples, pequena e simpática capela dos Angicos, havia outra família que acabara de perder uma pessoa. Ana Márcia deixou filhas...Era a profunda tragédia humana ao lado da alegria transbordada. Lado a lado, a vida e a morte. “Assim como é nossa vida”, explicou João. Como é culto! Tem sensibilidade. Soube celebrar a alegria de uma família e acolher a dor de outra no mesmo momento, no mesmo lugar. Além disso, nos contou o óbvio ululante, que nos negamos a enxergar: “o mundo moderno criou as novelas que roubaram nosso maior poder, o de imaginar”, disse João Batista. Depois de abençoar Zeca&Cecília, se dirigiu à família de Ana Márcia para dar também sua benção. João me fez voar, transcender. Mesmo sendo católico não praticante. Mas quem disse que tudo aquilo tem a ver com o catolicismo? O amor de 60 anos, a tragédia de uma família, as sábias palavras de um Padre, o pranto de dor ao lado do meu choro de emoção, tudo isso faz para de VIDA. Não de uma religião. É esta compreensão que o mundo precisa. Por um acaso aquelas histórias convergiam em um templo católico e ali reinava a compaixão, a celebração, o respeito da alegria para com a dor e vice-versa. E assim deveria ser em todas as esferas da vida, entre tribos e religiões diversas.

Mesmo tendo esta trajetória recente de distanciamento dos rituais católicos, ainda preservo hábitos milenares de tal religião. Sinal da cruz obrigatório sempre que passo em frente a uma igreja católica. Já tentei passar reto, fingir que não vi, pensar na oposição ao uso da camisinha, na inquisição, em frango com quiabo, sei lá! Mas não tem jeito. Fico inquieto até executar o ritual do sinal. Se eu morasse em Salvador poderia ter que fazer isso 365 vezes ao dia e pegar uma LER. Assim faço também antes das refeições, antes de sair de casa, de começar o dia. Ato mais consciente, uma prece por proteção, para demonstrar gratidão. Já é independente da religião. No carro o gesto é acompanhado de um leve toque em meu tercinho dependurado no retrovisor. Minha mãe que me deu de presente. De 11 crias da Zecolândia ela foi a primeira. Também a primeira a se casar na Igreja e também a se separar. Ela ganhou o tal tercinho de sua irmã, minha Bia Tia, que tem mais de 25 anos de casada. Bia trouxe o artigo do Vaticano. Sim! Do lugar pra onde João Batista deveria ir. Já tem meu voto pra ser o Papa dessa humanidade, a autoridade maior. Para que o mundo possa escutar o que escutei no domingo, e muito mais que é possível ouvir nas suas celebrações atuais ou ler nos seus livros publicados. Mas pensando bem, vou cometer aqui o pecado do egoísmo: Melhor mesmo que ele fique por perto. Pois se ainda existe um ser humano que faz ter sentido a ocupação dos ecos, do vazio tranquilizante e acolhedor de uma Igreja Católica, esse atende pelo nome João Batista Libanio, o nosso Padre Libanio, da paróquia N.Sra de Lourdes, lá de Vespasiano, Minas Gerais.