quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Pra Sempre




Mãezukich, Momis, Mãezuca...Sessentona do meu coração. De acordo com o sangue dos Vianas, você acaba de completar, no mínimo, metade da sua vida! E que vida, hein?!

Poderia escrever linhas e linhas sobre suas histórias. Suas batalhas. Vitórias e derrotas, como todas as grandes histórias. Mas prefiro ser mais simples. Falar o que representa pra mim. 

Você é a luz da minha vida. Meu amor. Acho que nossas almas serão mãe e filho por toda a eternidade. Hoje quando acolho o meu pequeno, e quando o vejo ser acolhido por sua mamãe, me lembro de você. O quanto teve cuidado por mim desde pequeno. Não só tratando do meu pé torto, mas também acudindo minha alma. Me fazendo sentir parte desse mundão. 





Sou um filho muito grato. O mais grato desse mundo. Tenho a melhor mãe que poderia ter. Sua alma é repleta de bondade! Não tem espaço para sentimentos ruins. Você é um ser capaz de derramar amores e flores nos seus maiores inimigos (se os tivesse!). Mas uma pessoa assim não tem inimigos, não é?! Quem tenta ser inimigo logo se afasta, é jogado de lado. Pois a sua bondade, o seu amor, são tão grandes, e tomam todo o seu ser, que no fim não sobra espaço para energias ruins. 



Mamãe querida. Senhora do mar, da terra. Ser que respira fundo o ar e que irradia fogo. Você tem o poder de fazer o bem. Você é o bem em carne e osso. São 60 anos vividos assim: de coração aberto para o mundo. Imagino que tenha se machucado por aí. Mas sei que só assim poderia viver: de peito aberto, com o coração na frente de tudo. Não poderia ser diferente já que é a primeira filha de Seu Zeca e da Dona Cecilia, não é?



Que assim seja e sempre. Uma vida repleta de conhecimentos, de vivência. Você se preocupa com sua essência, com sua conexão com nosso universo é sempre me ensinou que assim devo viver. Que nada faria sentido na minha vida se eu não encontrasse tal conexão. É a mulher da natureza, das essências florais, da educação! Tal qual seus grandes autores e mestres, você é atemporal. Sabe por que? Porque amor no coração não tem preço nem prazo de validade. É pra sempre! E quando digo amor, é amor de verdade. Aquele eterno. Por tudo e por todos. Pelo mundo onde vivemos, pelo ar que respiramos. Todos que vivem a sua volta o sentem. E agora tem gente nova no pedaço, né? Que bom pra ele!






E sorte tenho eu, que tive esse amor desde muito muito pequeno. Bem antes de pensar em vir ao mundo. Lá nas profundezas do oceano. Quando eu era um peixe pequenino e mergulhava em busca de uma mamãe eterna. Há tempos. Muito antes do 25 de setembro de anos atrás. Na verdade, nem sei bem dizer. Pois conexão de alma é uma coisa muito profunda que não se explica, né? É pra sempre.

Feliz aniversário!






quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Aprendendo a Viver

Por Clarice Lispector

Thoreau era um filósofo americano que, entre coisas mais difíceis de se assimilar assim de repente, numa leitura de jornal, escreveu muitas coisas que talvez possam nos ajudar a viver de um modo mais inteligente, mais eficaz, mais bonito, menos angustiado.
     Thoreau, por exemplo, desolava-se vendo seus vizinhos se pouparem e economizarem para um futuro longínquo. Que se pensasse um pouco no futuro, estava certo. Mas "melhore o momento presente", exclamava. E acrescentava: "Estamos vivos agora." E comentava com desgosto: "Eles ficam juntando tesouros que as traças e a ferrugem irão roer e os ladrões roubar."
     A mensagem é clara: não sacrifique o dia de hoje pelo de amanhã. Se você se sente infeliz agora, tome alguma providência agora, pois é na seqüência dos agoras é que você existe.
Cada um de nós, aliás, fazendo um exame de consciência, lembra-se pelo menos de vários agoras que foram perdidos e que não voltarão mais. Há momentos na vida que o arrependimento de não ter tido ou não ter sido ou não ter resolvido ou não ter aceito, há momentos na vida em que o arrependimento é profundo como uma dor profunda.
     Ele queria que fizéssemos agora o que queremos fazer. A vida inteira Thoreau pregou e praticou a necessidade de fazer agora o que é mais importante para cada um de nós.
     Por exemplo: para os jovens que queriam tornar-se escritores mas que contemporizavam - ou esperando uma inspiração ou se dizendo que não tinham tempo por causa de estudos ou trabalhos - ele mandava ir agora para o quarto e começar a escrever.
     Impacientava-se também com os que gastam tanto tempo estudando a vida que nunca chegam a viver. “É só quando esquecemos todos os nossos conhecimentos que começamos a saber."
     E dizia esta coisa forte que nos enche de coragem: "Por que não deixamos penetrar a torrente, abrimos os portões e pomos em movimento toda a nossa engrenagem?" Só em pensar em seguir o seu conselho, sinto uma corrente de vitalidade percorrer-me o sangue. Agora, meus amigos, está sendo neste próprio instante.
     Thoreau achava que o medo era a causa da ruína dos nossos momentos presentes. E também as assustadoras opiniões que nós temos de nós mesmos. Dizia ele: "A opinião pública é uma tirana débil, se comparada opinião que temos de nós mesmos." É verdade: mesmo as pessoas cheias de segurança aparente julgam-se tão mal que no fundo estão alarmadas. E isso, na opinião de Thoreau, é grave, pois "o que um homem pensa a respeito de si mesmo determina, ou melhor, revela seu destino”.
     E, por mais inesperado que isso seja, ele dizia: tenha pena de si mesmo. Isso quando se levava uma vida de desespero passivo. Ele então aconselhava um pouco menos de dureza para com eles próprios. O medo faz, segundo ele, ter-se uma covardia desnecessária. Nesse caso devia-se abrandar o julgamento de si próprio. "Creio", escreveu, "que podemos confiar em nós mesmos muito mais do que confiamos. A natureza adapta-se tão bem à nossa fraqueza quanto à nossa força". E repetia mil vezes aos que complicavam inutilmente as coisas - e quem de nós não faz isso? - , como eu ia dizendo, ele quase gritava com quem complicava as coisas: simplifique! simplifique!
     E um dia desses, abrindo um jornal e lendo um artigo de um nome de homem que infelizmente esqueci, deparei com citações de Bernanos que na verdade vêm complementar Thoreau, mesmo que aquele jamais tenha lido este.
     Em determinado ponto do artigo (só recortei esse trecho) o autor fala que a marca de Bernanos estava na veemência com que nunca cessou de denunciar a impostura do "mundo livre". Além disso, procurava a salvação pelo risco - sem o qual a vida para ele não valia a pena - “ e não pelo encolhimento senil, que não é só dos velhos, é de todos os que defendem as suas posições, inclusive ideológicas, inclusive religiosas" (o grifo é meu).
     Para Bernanos, dizia o artigo, o maior pecado sobre a terra era a avareza, sob todas as formas. "A avareza e o tédio danam o mundo. Dois ramos, enfim, do egoísmo", acrescenta o autor do artigo.
     Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale a pena!
Feliz Ano Novo.