As vezes fico pensando. Simplesmente pensando. Sobre e vida,
sobre o mundo. Está desmoronando, mas é tão bonito! Fico imaginando o que será
do mundo daqui a cem, duzentos anos. Pra ser sincero, imagino mesmo o que será
do amanhã. Ah, a vida moderna. A eterna luta comigo mesmo para me preservar num
estado presente. Sem passado, sem futuro, somente o presente. Quando consigo
fazer isso vejo que os pássaros cantam, o sol brilha. O que quer que me
aconteça num dia desses, como agora, escrevendo essas linhas, ou simplesmente
olhando para essa mesa, me sinto feliz. Mas afinal, o que é a felicidade? Acho
que é uma ideia velha. E a gente precisa sempre de algo mais novo. Mas quando
tudo é velho, quando nada mudou? Serei eu o mesmo de sempre? Talvez um pouco
pior aqui, melhor acolá. Mais preguiçoso, com certeza.
Como gente que sou, quero falar. Todos querem falar! Estamos
sempre falando, falando....Estamos desde março falando, lendo e escrevendo. E
digo: já é o bastante. Diante de tanto falatório, as vezes fico pensando. Só
pensando. Entre um pensamento e outro, sempre vem a vodka. Me disseram que a
bebida não combina comigo, com minha bela voz. Comecei a pensar em parar de
beber, ficar sóbrio. Me parece uma boa ideia. Vou pensar sobre. Pensar? Que nada.
Pronto, parei! Está decidido. Finalmente uma ação, uma atitude. Mas e a
insônia, o que fazer com ela? Devo confessar. Confessar algo a mim mesmo. E
pode ser apenas em pensamento. Eu passo as noites sentindo uma fúria insana por
conta da vida que não vivi. O pouco que consigo pregar os olhos é domado por
sonhos estranhos, metafóricos. Há metáforas que são mais reais do que gente que
anda pelas ruas. Meu irmão, um cara culto, certa vez me disse que há imagens
nos recantos de livros que vivem mais nitidamente que muito homem e muita
mulher. Que há frases literárias que têm uma individualidade absolutamente
humana. Seria eu um individuo feliz se não fosse um individuo, e sim uma frase
literária? Talvez, talvez...Estou aqui pensando. Eu poderia ser palavras com
absoluta exterioridade e profunda alma. Poderia ser usado em poesias, canções
populares, romances. Pessoas importantes me usariam em seus trabalho! Ah, o
trabalho. Sei que é preciso trabalhar, trabalhar. E isso nada tem a ver com
frases e palavras. Mas pelo menos me coloca pensando na mesma coisa sempre, com
veemência. Me esqueço das dores e dos amores. Mas quando volto a pensar na vida,
logo me vem a pergunta de sempre: Por que não me concentrei em algo esplêndido?
Por que? E por que estou bebendo agora, outra vez? Acho que a bebida me faz
sentir que estou vivo. Ah, essa vodka, essa vida. As vezes fico pensando, só
pensando...
Agora terminei. Estou em silêncio.
Um comentário:
Que texto bonito, Gustavo! E termina muito bem. Não sei foi real u pura ficção, mas está terminas muito bem.
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