quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Desabafos de Karleshakle Aniergu de Shapagiucar

As vezes fico pensando. Simplesmente pensando. Sobre e vida, sobre o mundo. Está desmoronando, mas é tão bonito! Fico imaginando o que será do mundo daqui a cem, duzentos anos. Pra ser sincero, imagino mesmo o que será do amanhã. Ah, a vida moderna. A eterna luta comigo mesmo para me preservar num estado presente. Sem passado, sem futuro, somente o presente. Quando consigo fazer isso vejo que os pássaros cantam, o sol brilha. O que quer que me aconteça num dia desses, como agora, escrevendo essas linhas, ou simplesmente olhando para essa mesa, me sinto feliz. Mas afinal, o que é a felicidade? Acho que é uma ideia velha. E a gente precisa sempre de algo mais novo. Mas quando tudo é velho, quando nada mudou? Serei eu o mesmo de sempre? Talvez um pouco pior aqui, melhor acolá. Mais preguiçoso, com certeza.

Como gente que sou, quero falar. Todos querem falar! Estamos sempre falando, falando....Estamos desde março falando, lendo e escrevendo. E digo: já é o bastante. Diante de tanto falatório, as vezes fico pensando. Só pensando. Entre um pensamento e outro, sempre vem a vodka. Me disseram que a bebida não combina comigo, com minha bela voz. Comecei a pensar em parar de beber, ficar sóbrio. Me parece uma boa ideia. Vou pensar sobre. Pensar? Que nada. Pronto, parei! Está decidido. Finalmente uma ação, uma atitude. Mas e a insônia, o que fazer com ela? Devo confessar. Confessar algo a mim mesmo. E pode ser apenas em pensamento. Eu passo as noites sentindo uma fúria insana por conta da vida que não vivi. O pouco que consigo pregar os olhos é domado por sonhos estranhos, metafóricos. Há metáforas que são mais reais do que gente que anda pelas ruas. Meu irmão, um cara culto, certa vez me disse que há imagens nos recantos de livros que vivem mais nitidamente que muito homem e muita mulher. Que há frases literárias que têm uma individualidade absolutamente humana. Seria eu um individuo feliz se não fosse um individuo, e sim uma frase literária? Talvez, talvez...Estou aqui pensando. Eu poderia ser palavras com absoluta exterioridade e profunda alma. Poderia ser usado em poesias, canções populares, romances. Pessoas importantes me usariam em seus trabalho! Ah, o trabalho. Sei que é preciso trabalhar, trabalhar. E isso nada tem a ver com frases e palavras. Mas pelo menos me coloca pensando na mesma coisa sempre, com veemência. Me esqueço das dores e dos amores. Mas quando volto a pensar na vida, logo me vem a pergunta de sempre: Por que não me concentrei em algo esplêndido? Por que? E por que estou bebendo agora, outra vez? Acho que a bebida me faz sentir que estou vivo. Ah, essa vodka, essa vida. As vezes fico pensando, só pensando...


Agora terminei. Estou em silêncio.



Um comentário:

Oscar Calixto | Blog Dois Pernods disse...

Que texto bonito, Gustavo! E termina muito bem. Não sei foi real u pura ficção, mas está terminas muito bem.